terça-feira, 10 de junho de 2008

Ridícula

RIDÍCULA

Ridícula e nua,
Sem fantasia. É só meu coração que naufraga de novo.
Dentro de um copo de vinho do porto, esse coraçãozinho.
Sem palavras. E você me pede para não fazer drama.
Drama para quê? É só meu coração que parte.
Não colocaram a música dos Beatles.
Não fizeram a conta de quantas noites esperei, quantos dias.
Há só acusações em relação ao passado, taxa de juros, ordem de despejo.
Preciso sair deste quarto onde te espero e você não vem.
Preciso pagar a conta de tanto atraso: não mereço, basicamente não mereço. Acordar sozinha, andar sozinha, dormir sozinha: esse é o real, dia após dia.
Enquanto você se diverte com seu passado, seus desejos, suas novas fantasias. Enquanto você me responde com longos silêncios e a afirmação divertida de que eu não passo de uma mulher.
Enquanto isso, é meu relógio que se perde: o tempo onde o tempo não é inimigo.
Não há música no ar e meu passado não justifica suas dúvidas atuais, por mais que você tente. Não há padre nesse nosso casamento onde eu, ridícula noiva, deito num altar sem buquê. É o olhar de Deus que me lembra que apesar de ridícula e boba estou salva.
O amor é também essa faca de palavras e pensamentos com que você corta o meu coração para que ele não doa. O amor é esse vento frio em pleno verão, esse vazio no sofá, essa sensação de ridículo que eu senti de salto alto e vestido vermelho. De novo amar e não ser visível; sou apenas esse gesto, esse corpo nu na cama- sem registro; só saudade e vida a pulsar esperando.